Especialistas dizem como lidar com vício das drogas dentro da família
A presença da família é importante na reabilitação. Chamar a polícia não é a melhor opção, destaca psiquiatra.
Um filho viciado em drogas morre na frente dos pais, em uma cena de tiros e terror. Uma história terrível, que faz muitas pessoas se perguntarem como impedir que as drogas devastem tantas famílias.
As brigas em casa se repetiam toda madrugada. “Ele querendo dinheiro para comprar droga, quebrando as coisas, roubando as coisas”, lembra a vizinha Solange Angélica da Silva.
Uma história com um trágico ponto final. Bruno do Nascimento Magalhães, de 29 anos, foi enterrado nesta quinta-feira em Belo Horizonte. Horas antes, depois de mais uma discussão, o pai dele chamou a polícia. O rapaz reagiu com uma faca, feriu um dos policiais e foi morto com 12 tiros.
“Para mim, foi chocante ver. Foi como se fosse um fuzilamento. Quando eu vi, parecia um rapaz de uma guerra, parecia um marginal, lidaram como se fosse um marginal, coisa que ele nunca foi”, conta o primo de Bruno, Thiago Nascimento Castro.
“A gente sabe que foi feita a quantidade de tiros necessária para cessar a conduta do agente”, diz o tenente Tomaz Cardoso, da Polícia Militar de Minas Gerais.
No fim de outubro, no Rio de Janeiro, Luiz Fernando Prôa também chamou a polícia para prender o filho viciado em crack. O rapaz de 26 anos estrangulou a namorada depois de usar a droga. Na opinião do psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo, Ronaldo Laranjeira, chamar a polícia nem sempre é a melhor saída para contornar o problema.
“A polícia talvez seja menos preparada ainda para lidar com uma crise familiar. Se não conseguir negociar, tem que recorrer a ajuda profissional, um ambulatório, grupos de autoajuda ou internação”, diz Ronaldo Laranjeira.
Em uma clínica de reabilitação na Grande São Paulo, relatos de conflito familiar são comuns. Um adolescente foi levado ao conselho tutelar pelo próprio pai: “Eu roubei um dinheiro dele e fui na boca comprar droga. Comprei crack. Umas duas, três horas depois ele descobriu, eu tive a discussão com ele. Depois ele foi no conselho tutelar, me denunciou e o conselho tutelar arranjou a clínica”.
O tratamento a que ele e outros 20 jovens se submeteram tem três fundamentos: saúde, escola e reinserção social.
A rotina dos adolescentes começa às 7h e vai até às 22h. É um dia cheio de atividades pedagógicas e esportivas, além de muita orientação psicológica. Mas a experiência tem mostrado que nada disso dá resultado se não houver também um trabalho com a família.
“Os jovens pedem mais dinheiro em casa. A família fica com medo, não sabe como agir e os jovens são agressivos. A presença deles para orientação e para que eles sejam tratados e educados para esses quadros é absolutamente fundamental”, opina o psiquiatra Pedro Daniel Katz.
Alguns sinais podem ajudar a identificar uso da droga, como mudanças de comportamento; alterações do sono; mentiras; desrespeito a horários, limites e regras da casa; brigas com pais e irmãos e queda de rendimento escolar.
Para especialistas, estar atento a esses indícios evita que a situação fuja de controle e leve a atitudes extremas.
“Acho que a pior coisa é expulsar o seu filho de casa. Se exclui o seu filho da influência benéfica da família, você vai deixá-lo na influência das pessoas que usam a droga, dos traficantes e de alguma forma, isso tende a piorar”, comenta o psiquiatra Ronaldo Laranjeira.
Em um mês, o jovem deve voltar para casa e é lá que espera encontrar apoio: “Minha família hoje, para mim, é tudo. Sem a minha família, praticamente, eu não sou nada”.
Os dois especialistas que ouvimos na reportagem concordam que faltam programas de prevenção contra as drogas, voltados para os jovens. O psiquiatra Ronaldo Laranjeira também disse que o consumo de entorpecentes aumentou bastante nos últimos 20 anos porque há mais tipos de drogas por preços mais baixos. Isso dificulta ainda mais a prevenção e o combate ao tráfico.