Pai, mãe, irmãos, amigos, namorado(a), marido/mulher... Em geral esses são os alvos preferenciais das brigas. Apesar de serem inúteis na maior parte dos casos, não é todo mundo que consegue evitá-las. Acaloradas, elas seqüestram as emoções e também não é fácil contê-las, ou pará-las.
Em geral se reduzem a um argumento básico: ‘eu tenho razão, você está errado, e tem de admitir’... Podem surgir virtualmente do nada – um esquecimento, um olhar enviesado, uma palavrinha ‘mal-dita’. Costumam ser completamente destituídas de sentido. São capazes de ferver os ânimos e prosseguem em rápida e fulminante escalada.Em geral, são burras – não vão resultar em nada, não vão funcionar, e quem briga no fundo sabe disso. Mas, quando se vê, não dá mais para parar. Ou quase.É preciso tentar parar. Embora comuns, as brigas são tóxicas. Como um veneno que se acumula e mata aos pouquinhos, suas consequências podem ser funestas.Basicamente, as brigas brotam de nossa vontade de ser aceitos e compreendidos por aqueles que amamos – embora tantas vezes acabem por nos afastar deles. Naquele momento, pareceu absolutamente inaceitável que a outra pessoa não concordasse com a gente. No calor do momento, pode-se descambar para um vale-tudo verbal – pode-se chegar a ofender e humilhar o outro. Afinal, parece que a única coisa que interessa é ganhar a briga. Resta saber o que é isso... Quando há divergências, podem ocorrer discussões em outro nível. Trocam-se idéias para buscar alguma conclusão. Pode-se até não definir nada, mas a conversa tem outro sentido. Diferente da briga, a discussão tem princípio, meio e fim.Brigas bobas são completamente diferentes – não têm meta, têm curso aleatório, muitas vezes andando em círculo, repisando velhos conflitos não-resolvidos. O novo argumento apenas serve de álibi para velhas reclamações. Uma briga boba nunca tem fim – pára por exaustão. Recomeçará depois. Mais tarde, amanhã, daqui a um mês. Não termina porque não tem sentido, ou tem outro sentido, que, aliás, não é diretamente contemplado, mas vaza nas rusgas. Permanece não-dito. Assim se arruínam muitos relacionamentos. As brigas se tornam moeda corrente. Repetitivas, são incorporadas à rotina. O mal-estar se infiltra, insidiosamente. Briga-se agora, para pedir desculpas mais tarde, aguardando-se a reconciliação.Desculpas? Em termos: o dano foi feito. O outro sentiu os golpes, por mais que também os tenha dado. As reconciliações sempre se darão em um patamar inferior.Fazer as pazes? Relativamente. As brigas dilapidam a confiança e o respeito mútuos. Mesmo bobinhas, conseguem minar vínculos.Com o passar do tempo, vão se tornando mais ácidas. As palavras, mais ásperas. Os motivos, mais mesquinhos e corriqueiros. O desrespeito gerado é acumulativo e segue num crescendo, como se realmente almejasse o fim.Quando se dá pela coisa, o dano é irreversível. O relacionamento se arruinou. Até a relação pais e filhos – tido como granítico – sofre, quando as brigas são freqüentes. Amigos vão embora. Irmãos se afastam. Namoros são terminados. Casamentos se desfazem.
* Cibele Ruas, autora do texto, é psicóloga clínica
sábado, 8 de setembro de 2012
Brigas
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